31 Voltas ao sol - Lição nº 12
Dizer adeus ao cavalo branco e ao cavaleiro de capa dourada
Ui!!! Nesta lição venho vos falar do coração...aquele que bate ardentemente sem se ver...
(E sim ainda não publiquei a lição 12 mas isto da inspiração para escrever não segue listas numéricas, no meu caso, segue apenas uma coisa - o coração.)
Ora bem...venho aqui hoje dar umas palmadinhas nas costas dos nossos maridos/esposas (rhhh! chiça que odeio esta palavra!), namorados(as), companheiros(as) e dizer-vos que eles não são os culpados! Sim, a loiça por lavar, a roupa por estender, o saco de compras que carregamos mais o miúdo ao colo, ele de mãos nos bolsos a seguir com a sua vidinha...leve como um passarinho...Não, não é culpa deles/as que vocês se sentem assim irritados. Defraudados dessa ideia romântica do príncipe encantado que nos salva e que é (ao mesmo tempo!) másculo mas compreensivo, responsável mas espontâneo, sensível mas guerreiro, etc...
A culpa meus caros...é da DISNEY!
SIM DA DISNEY!
Cá em casa criámos esta rotina: à sexta-feira à noite, é noite de cinema. Eremitas como nós somos, vemos o cinema em casa. E como mãe de uma criança pequena acabamos inevitavelmente por ver um filme de princesas. Até aqui nada de mal. Temos visto desde os filmes mais antigos até aos mais recentes. Desde o ENCANTO à Bela Adormecida. E eis, meus amigos, que me deparo com estas histórias mais antigas de encantar e desta vez olho para elas... e fico estupidificada.
Quando vi a Cinderela! Até me passei da marmita...então...quer dizer...a rapariga anda ali a limpar a porcaria toda e a aturar desculpem-me a expressão "as mulas das irmãs e da madrasta" para depois ir para o castelo. Apaixona-se por um príncipe que viu e dançou uma vez...uma vez..., e cujo papel no filme inteiro é só aparecer e fazer o que lhe mandam. Tipo, ele não faz nada o filme TODO! Ele só dança com uma data de miúdas de 16 anos e depois apaixona-se por aquela que é a mais bonita e casa-se.
(Não esquecer que outra coisa muito flagrante é o facto de estas princesas terem todas uns 16 anos de idade e andarem por aí a casarem-se com príncipes como se não houvesse problema.)
A verdade é que agora que olho para estes filmes vejo o quanto estas "princesas" são tontas. Aliás, a Elsa - Frozen é para mim uma das minhas preferidas, pois até agora é a única que questiona a saúde mental da irmã Ana por se apaixonar e querer instantaneamente casar com um príncipe.
Mas agora falando a sério. Este tipo de ideologia do homem-príncipe é para mim uma verdadeira doidice...Porque cria expectativas erradas sobre a realidade do que é verdadeiramente uma relação a dois. E uma relação a dois é uma parceria que exige muito trabalho e dedicação.
Aplicando os mesmos standards para o sexo oposto este só poderia esperar de nós uma mulher linda de morrer, com uma cintura quase inexistente (já viram a cinturinha da Aurora? ou da Cinderela?), que caímos que nem um patinho por eles, basta um passo de dança ou uma cantoria e BAM! estamos apaixonados e está tudo bem, siga para o castelo! Nope!
Para que raio queremos um homem - príncipe, se um homem a sério e real consegue ser tão mais que isso. Tal como nós não somos a idealogia pornográfica (disney masculina) deles, eles não têm que ser só um homem musculado, rico, com uma boa voz e um bom passo de dança para serem os nossos cavaleiros andantes.
O verdadeiro parceiro é aquele que nos ama pelo que somos. E nós temos que lhe oferecer a mesma sinceridade e amá-lo na mesma medida. Aos nossos olhos podem existir coisas que podem estar por fazer, tarefas domésticas a acumular, "banhas" a abater, mais romantismo,...(sejam sinceros! a lista é imensa, não é?!). Mas a verdade é que quando encontramos aquela pessoa, nós vemos para além disso. A nossa versão de namoro e de encontros românticos não existe o tempo todo, a fachada tem de cair. E é aí, nesse momento, que nos damos verdadeiramente, uns aos outros. É aí, que sabemos que escolhemos o verdadeiro amor. Aquele que olha para nós no nosso pior mas mantém aquela luz cintilante nos olhos e diz-nos que nos deseja e ama. Aquele que nos ergue e que puxa por nós para sermos melhores. Aquele que quando estamos a ser cruéis e incompreensivas vem ter connosco e obriga-nos a falar sobre o que verdadeiramente nos dói. Aquele que apesar de parecer não se importar com o quão nos desgasta pode-nos surpreender com um gesto amigo. Aquele que abraça quem somos apesar do quão negra possa ser a nossa escuridão porque sabe o quanto nós somos capazes de brilhar.
O amor pode sempre assumir muitas formas. E nós, como pessoas, podemos ser as versões encantadas de mais do que um tipo de amor. Mas não sejamos injustos connosco e com aqueles que amamos por eles não estarem no mesmo standard que personagens fictícias.
Eu leio muitos livros de YA Fantasy e Fantasy. Muitas personagens principais masculinas veneradas por milhares de leitores por este mundo fora são criadas por escritoras que nas suas dedicatórias exaltam o quanto os seus maridos e companheiros são importantes para elas. E eu aposto que muitas dessas personagens são amadas por estes leitores porque são baseadas na relação verdadeira e sincera que elas têm com os seus companheiros. Estas personagens só resultam, porque resultam de homens e mulheres verdadeiros e de relações equilibradas de partilha sincera que servem de inspiração para as suas histórias.
Por isso, hoje desafio-vos a lembrarem-se e darem um abraço a essa pessoa especial, não por aquilo que gostavam que ela fosse, mas pelo que ela é. Façam pazes com essa utopia. Mesmo que essa pessoa especial seja vocês mesmos.
Tempo de elaboração e edição: 6 horas
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