[Des]tralhar o EU
Hoje venho partilhar mais um desabafo. Não é nada deprimente eu prometo! Muitos dos desabafos que aqui partilho (que sinceramente, não são assim tantos visto que o site só começou em Agosto, duh!) vêm das múltiplas conversas que se passam na minha cabeça. Lembram-se do post do Ruído Mental?! Pois muitas conversas a tomar café (na minha cabeça, é claro!), e uma pessoa aqui a querer apenas existir e simplesmente viver. Um amigo, um destes dias, disse-me que achava as mulheres muito complicadas e até concordo com ele, talvez seja uma coisa de mulheres, e os homens vivam uma existência cerebral povoada de silêncio com esporádicas e breves visitas de médico destes pensamentos, que nós mulheres temos todos os dias e a toda a hora. Talvez seja esse o caso ou talvez não!
A verdade é que noutro dia vi que a Marie Kondo tinha lançado mais uma série de Destralhar no Netflix, (para quem não sabe) a Marie Kondo é uma especialista em organização pessoal, empresária e escritora japonesa que lançou um dos maiores bestseller dos últimos anos relacionado com o tema destralhar as nossas casas cujo livro entitula-se: "Arrume a sua Casa, Arrume a sua Vida". Trata-se de um título muito promissor e para quem como eu tinha (e tem...) muita tralha em casa tornou-se uma espécie de bíblia. Este livro ajudou-me e à minha família no processo de destralhar várias das coisas que foram acumuladas ao longo dos anos em variadas mudanças de casa e residência, bem como no processo de analisar e seleccionar itens que herdamos de entes queridos que hoje já não estão connosco.
A dica que Marie Kondo partilha no livro e que para uns resulta e outros acham ridículo é (resumidamente):
Devemos tocar nas nossas coisas e ao tocar nelas sentir alegria, se não sentirmos alegria no que temos então devemos agradecer a essa coisa a utilidade que teve e desfazermo-nos dela.
O que tocamos e deixa-nos alegres devemos manter e guardar de forma organizada com respeito pela sua função e utilidade que traz à nossa vida. Resultante deste processo contínuo de destralhar conseguiremos obter uma casa, na qual apenas existem coisas que nos deixem alegres, dessa forma, arrumamos também a nossa vida, porque somos obrigados a reflectir: porque mantemos o que temos, porque é que algo já não é útil, e leva-nos a redescobrir o que de facto é importante para nós e deve ser mantido na nossa vida. Por conseguinte, conseguimos como diz o título: arrumar a nossa Vida.
Partilhei convosco um sumário do processo de destralhar de coisas e objetos, coisa que hoje em dia está na moda e ouve-se um pouco por todo o lado. Mas no outro dia pensava, então e o processo de destralhar do EU? Pode só acontecer a mim, no entanto, pergunto-me:
- Nunca vos aconteceu andarem pela vossa vida e um dia estão exaustos...absolutamente cansados, sem energia...e pensam o que se passa comigo? E quanto mais vão pensando dão-se conta da multitude de papéis, funções e EU's que existem no vosso dia?!
Ok! Não me mandem já para o manicómio! Eu vou explicar...
No meu dia-a-dia, eu não sou só a Sofia. Eu sou a filha, a irmã, a mãe, a esposa, a companheira, a tia, a nora, a cunhada,...isto na camada das relações. Agora vamos a outra camada: Eu sou a engenheira, a tutora, a professora, a assistente, a blogger, a editora de vídeo, a gestora de projectos, a cuidadora, a jardineira, a organizadora, a voluntária,... Ao longo do tempo torna-se exaustivo...quando expus este desabafo à minha mãe e perguntei-lhe a sua opinião, ela respondeu-me: - Eu? Bem, o meu objetivo é minimizar de tal maneira, que um dia seja apenas EU, aí sim terei calma e paz.
Foi aí que percebi que o processo de destralhar, arrumar a nossa casa e a nossa vida, não chega!
Depois de destralharmos o mundo exterior e o que nos rodeia, a única forma de voltarmos ao equilíbrio e a sermos apenas EU é lidar com aquilo que eu chamo de "cebola". Eu sou como a cebola (a meu ver).
A única forma de algum dia me conhecer e viver em harmonia comigo própria é identificar, destralhar e organizar as camadas que me compõem. Se eu parar de confundir funções e papéis que desempenho na minha vida e conscientemente reconhecê-las como algo que não sou eu, então EU poderá ser reconhecível e vir à superfície e ser livre. Ao perceber que o meu EU, não é as relações e a relação que eu tenho com os que me rodeiam, e que o meu EU, não é o trabalho(s) que desempenho no meu dia-a-dia, creio que conseguirei aliviar este peso que às vezes sinto...esta carga de que tenho que estar, ajudar, fazer e melhorar tudo o que me rodeia e tudo o que faço.
Em suma, o mundo exterior, a casa que temos, o carro que usamos, as roupas e as coisas que possuímos, as relações que temos, as pessoas que conhecemos, o que fazemos, a nossa profissão, o nosso cargo, NADA disto é EU!
EU existe sozinho, despido de tudo e de todos, algures aqui no fundo à espera que eu o vá conhecer.
Até a próxima!😉
Tempo de elaboração e edição: 5 horas
Copyright © 2021 Sofia7ofícios. Todos os direitos reservados.